30 dezembro 2019
Resenha # 178 : Se a Rua Beale Falasse
Título: "Se a Rua Beale Falasse"
Autor: James Baldwin
Páginas: 224
Editora: Companhia das Letras
Ano: 2019
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Descobri Se a Rua Beale Falasse através da adaptação para o filme que ocorreu no final de 2018, que por sinal foi premiado e aclamado pela crítica. O livro foi publicado originalmente em 1974 e relançado pela Companhia das Letras em 2019 numa edição especial com uma jacket com a capa do filme. Pelos comentários que já tinha ouvido, tanto do livro quanto do filme, já esperava uma leitura mais densa, porém, não imaginava o quão impactante essa história seria... James Baldwin não minimiza em momento algum os temas tratados, tornando assim a leitura dura, mas, muito real.
O livro traz a história de Tish, uma jovem de dezenove anos que trabalha na seção de perfumes de uma loja de departamentos. Ela e seu noivo, Fonny, de vinte e dois anos, aspirante a escultor, pretendem sair da casa dos pais, morar juntos e começar a vida adulta. O casal, porém, pego de surpresa, é obrigado a mudar radicalmente os planos.
Certo dia, Fonny é abordado e hostilizado por um policial que termina por prendê-lo, acusando-o de ser o autor do estupro de uma jovem porto-riquenha. Enquanto ele aguarda atrás das grades pela resolução do caso - que nem sequer foi levado a julgamento -, a noiva não perde as esperanças e tampouco mede esforços para soltar o rapaz. Até que uma novidade acrescenta ainda mais carga dramática à situação: Tish descobre que está grávida.
Numa torrente de desespero, ela conta com a ajuda da família, sobretudo da mãe, para tentar encontrar uma saída. Será necessário convencer os advogados de que Fonny não é culpado pelo crime e que seu caso deve ser avaliado da maneira mais imparcial possível.
Tendo o Harlem da década de 1970 como pano de fundo, o romance descreve uma sociedade fortemente marcada pela desigualdade e pela discriminação racial. Como a trama demonstra, o abuso do poder é capaz de trazer desdobramentos sombrios e irreversíveis à vida de pessoas inocentes.
Se a Rua Beale Falasse é narrado em primeira pessoa e foi escrito de uma forma que me lembrou um diário, onde a protagonista Tish narra não somente a sua vida, mas a de todos os outros personagens. A escrita de James Baldwin é bastante fluída, melancólica e traz várias referências musicais, o que torna a narrativa muito poética. A capacidade de Baldwin de criar efeitos visuais com as palavras se evidencia em descrições de cenas e personagens tão apuradas e ricas em detalhes a ponto de sua escrita se aproximar do trabalho de um pintor. O casal protagonista Tish e Fonny, foram muito bem construídos e o amor que sentem um pelo outro quase chega a ser palpável, o que fica provado quando, mesmo estando preso, ele está sempre preocupado e protetor em relação a Tish.
Achei interessante que mesmo que a dominação masculina tente se impor na narrativa, em Se a Rua Beale Falasse são as mulheres que conduzem a trama e as ações, num protagonismo que desconstrói a idéia de passividade. A começar por Tish, a protagonista, são as mulheres que se colocam a frente na tentativa de libertar Fonny. Ernestine, por meio de seus contatos. Sharon e Tish, se reúnem periodicamente com o advogado para tomar ciência do andamento do caso e elaborar estratégias para livrar Fonny. Sharon, por sua vez, viaja para Porto Rico a fim de encontrar novas provas, mesmo sem falar uma sequer palavra em espanhol. E Tish visita com frequência o noivo na prisão, tentando mantê-lo esperançoso e mentalmente equilibrado.
Apesar de sua publicação original ter sido na década de 70, a obra Se a Rua Beale Falasse, infelizmente, ainda soa verossímil, onde não raro vemos nos telejornais casos de racismo e acusações injustas. James Baldwin nos mostra como é ser negro em um país racista e por diversas vezes, senti uma revolta angustiante ao pensar em como alguém pode ser tão repugnante ao acabar com a vida de outro ser humano simplesmente pela cor de sua pele. E o pior de tudo é que ainda vivemos isso, e o livro me mostrou que pouca coisa mudou nesses 45 anos que o mesmo foi publicado, o assunto ainda é necessário e urgente. Mesmo com o tema base sendo o preconceito, o livro não deixou outros assuntos de lado, tem várias diversificações como a violência contra a mulher, empoderamento feminino, estrutura familiar entre outros.
Enfim, Se a Rua Beale Falasse é um livro extremamente intenso, que trás realidade, justiça, beleza e tristeza. Que nos faz pensar e desejar um futuro melhor. Recomendo para todos os leitores que curtem histórias reais, duras e complexas.
Eu li esse livro e foi um dos melhores do ano. Ele é bem diferente do que estou acostumada a ler e por isso foi uma ótima experiência.
ResponderExcluirBeijos
Balaio de Babados
O livro me lembrou outro título, o livro O Sol é Para Todos também se trata de injustiça racial, porém, é uma história contada pelos olhos inocentes e sem malicia de crianças brancas.
ResponderExcluirGostei muito desse livro e é realmente muito triste saber que ainda é uma história verossímil.
Beijo, Blog Apenas Leite e Pimenta ♥
Eu não li o livro mas já vi a adaptação e tá na minha listinha para assistir. Infelizmente esse tema ainda permanece atual, o mundo evoluiu muito pouco em temas tão importantes como o racismo, por exemplo. Gosto de livros do tipo e sei que iria ficar com o coração na mão ao avançar as páginas.
ResponderExcluirAbraço,
Larissa | Parágrafo Cult
Amei a resenha, desde que ouvi falar do filme quis ler o livro. Além de ser um tema muito relevante , ainda tem esse estilo de escrita em primeira pessoa que deixa melhor
ResponderExcluirBeijos
www.dearlytay.com.br
Oi! Lembro de ver muitos comentários sobre a obra e sua adaptação, mas por ser algo que não tenho muito o hábito de ler, acabei não conferindo. Pela série de elogios, deve ser bem marcante, quem sabe em breve eu resolva sair da zona de conforto com ele. Bjos!! Cida
ResponderExcluirMoonlight Books
Oie,
ResponderExcluirAdorei sua resenha, não conhecia nem o filme nem o livro, mas parece ser uma história muito boa e forte.
Por enquanto vou procurar o filme para assistir, mas já deixando o livro para a lista de leituras de 2020.
Beeijo e feliz ano novo!!
Grazy Carneiro
Meus Antídotos
Oi Di!
ResponderExcluirEu ouvie falar do filme mas o livro em si nao conheci e confesso que nao tenho vontade, embora a premissa seja muito interessante. Quem sabe um dia por hora nao.
Abraços
Emerson
http://territoriogeeknerd.blogspot.com/
Olá,
ResponderExcluirAdoro tanto o livro quanto o filme. Mesmo com certa diferença, a mensagem permanece atemporal e é o que importa.
até mais,
Canto Cultzíneo
É nessas horas que a gente percebe o quanto, em várias questões, não evoluímos quase nada. Pelo contrário, as vezes até regredimos. Apesar de não ter lido esse livro, percebi na sua resenha o quanto ele nos atinge de diversas maneiras e o quanto a sua leitura deve ser essencial. Enfim, amei e a dica está mais que notada.
ResponderExcluirBeijos
Olá, Diane.
ResponderExcluirEsse livro está entre uns dos que pretendo ler no ano que vem. E já sinto que vai estar entre os melhores no final do ano. Eu não vi o filme, mas tudo o que a história trás é algo que mexe com a gente e tenho certeza de que vou gostar e muito da leitura.
Feliz Ano Novo!
Prefácio
Oi Diane,
ResponderExcluirNão conhecia o livro e nem sabia do filme, mas realmente gostei da premissa.
Dica anotada ♥
Que o Ano Novo seja uma porta aberta para novos sonhos, renovações de fé e muita paz para o nosso mundo. Feliz 2020!
Diário dos Livros
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Hey Diane! Tudo bem?
ResponderExcluirEu não conhecia esse livro nem o filme baseado nele, mas espero que ganhe muitos e muitos prêmios, pelo que mencionou essa história merece!
Obrigada por comentar lá no blog.
Volte sempre!
| Blog Misto Quente |
Oi Di, tudo bem?
ResponderExcluirEu adorei a resenha e as reflexões que esse livro traz. Como você disse, ainda hoje esse tema é relevante, infelizmente. No Brasil, a maioria carcerária é negra, bem como o nível de desigualdade atinge muito mais negros que brancos. Livros assim são necessários!
Beijos e Feliz Ano Novo!
Priih
Infinitas Vidas