Resenha # 229 : Um Caminho Para a Liberdade

 

Título: "Um Caminho Para a Liberdade"

Autor: Jojo Moyes

Páginas: 368

Editora: Intrínseca

Ano: 2019

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   Sabe aquele livro que a gente ama tanto que até nos falta palavras para descrevê-lo? Pois é, Um Caminho Para a Liberdade é exatamente esse livro pra mim! Confesso que estava enrolando pra realizar essa leitura, estava com meu exemplar há 4 meses na estante, mas, nunca parecia ser o momento certo pra ler, então, pra minha surpresa, quando abri o livro o virar de páginas se tornou rápido e fácil e não conseguia mais parar de ler! Um Caminha Para a Liberdade foi uma leitura que me conquistou, me envolveu, me teletransportou pra dentro do livro e, sem dúvida, se tornou o meu livro favorito da autora e tem potencial suficiente pra se o melhor do ano!

   O livro se passa na década de 1930, quando os EUA se recuperavam da Grande Depressão. Como forma de acelerar e melhorar a economia, o Presidente Franklin Roosevelt lançou um pacote de programas denominado New Deal. Um dos projetos mais conhecidos foi o “Works Projects Administration”, visando a criação de empregos, como a Biblioteca a cavalo no Kentucy, defendida amplamente pela primeira dama Eleanor Roosevelt. É nesse cenário histórico que as personagens fictícias serão inseridas. Em uma reunião da comunidade de Baileyville, a proposta da biblioteca é lançada – mulheres saindo a cavalo levando livros para famílias nas montanhas, que não tinham acesso fácil à cidade.

    E assim quatro bibliotecárias – Alice, Margery, Beth, Izzy, assumem a tarefa, tendo a ajuda de Sofia que, por ser negra, seria a responsável por cuidar da administração – existiam bibliotecas separadas para negros. Cada uma das cinco mulheres tinha vivências e expectativas bem diferentes quando aderem à ideia da biblioteca. Temos Alice, uma inglesa que vem para os Estados Unidos após um rápido romance com Bennett. Também temos Margery, quem organiza a biblioteca e que tem um histórico familiar complicado, daqueles de rixas seculares com outra família; Sophia, uma mulher forte, que sabe viver em meio a intolerância a sua cor, e que cuida do irmão, um mineiro que perdeu a perna e foi dispensando sem nenhum direito; Beth e Izzy, as mais jovens, mas que também contribuem para a biblioteca.

   Essas mulheres têm o desafio de conquistar as pessoas ao longo das rotas que são traçadas para cada uma, que encontram famílias completamente afastadas da cidade, que vêm com desconfiança a entrega de publicações, que vão desde livros infantis, literatura, e revistas com receitas. Com o jeito carinhoso, elas vão conseguindo cativar até os mais cascudos dos homens ao longo das montanhas.

   Mas, por conta de pessoas que vêm os livros como um caminho para a liberdade, e querem manter o status quo, teremos muitos desafios para as bibliotecárias a cavalo. Um crime é cometido e, para tirar o foco na briga de sindicatos com os mineradores, e um rompimento de barragem, alguns poderosos irão com tudo para cima das bibliotecárias. Será que elas vão ter que abrir mão de sua liberdade e felicidade?

   Um Caminho Para a Liberdade é narrado em terceira pessoa e intercala os pontos de vista entre vários personagens, mas, em sua grande maioria pelas bibliotecárias Alice e Margery, o que permite o leitor uma visão bem ampla da história. Esse livro foge completamente dos padrões da autora Jojo Moyes. Mais conhecida por seus livros de romance romântico como uma pegada mais dramática, Moyes traz aqui um romance histórico com uma pegada feminista para ninguém botar defeito e mostra que tanto suas ideias quanto sua escrita estão cada vez melhores. O mais interessante é que a ideia desse livro é baseada em algo que realmente aconteceu. O projeto das Biblioteca à Cavalo existiu nos EUA entre 1937 e 1943 levando livros e conhecimentos para os mais pobres do interior do país. A trama e os personagens são ficcionais, mas por incrível que pareça, nada aqui foge da nossa realidade, a nossa mesmo do século 21. 

    As protagonistas são simplesmente maravilhosas! Não vou descrever a personalidade de cada uma, pois, o mais interessante é conhecê-las durante a leitura. Margery, Alice, Beth, Izzy e Sophia são mulheres fortes, com sonhos próprios e um vontade imensa de fazer a diferença na vida das pessoas, mas que foram apontadas, julgadas e condenadas pelo simples fato de serem mulheres que não se calavam em 1937. Essas cinco mulheres juntas enfrentam o preconceito, o patriarcado, o machismo e a alienação social e cultural. E, por lutar, não só pelos próprios ideais, mas também acesso a cultura, informação e educação da minoria de uma cidade, enfrentarão a ira de figurões.

   Um Caminho Para a Liberdade é um livro que nos traz mensagens incríveis! A primeira e mais óbvia é sobre o poder dos livros. Aqui é bem retratado como, apesar do estranhamento inicial, livros podem conquistar qualquer pessoa e, além de ser um meio de diversão e aprendizagem, são um meio de libertação pessoal e social. Ler também nos torna mais empáticos e críticos, o que, como Um Caminho Para a Liberdade mostra, é perigoso em épocas de muito conservadorismo. Outra mensagem que o livro traz é sobre a importância da união feminina. Quando as mulheres se unem, se torna muito mais fácil para cada uma delas assumir o controle de suas vidas e lutar pelo que acreditam. E é incrível pensar que, apesar dessa ser uma obra de ficção, de fato existiu nos Estados Unidos bibliotecárias a cavalo. Como mulher, é bom e inspirador saber que no passado, apesar do grande sexismo, existiram mulheres que desafiaram as regras diariamente.

   Apesar do foco principal do livro ser a biblioteca a cavalo e a união feminina, não posso deixar de comentar também sobre a questão da mineração e a influência dos poderosos da cidade que querem tirar as famílias de suas casas para expandir o negócio. Muitas décadas já se passaram dessa época do livro, mas, foi impossível não pensar que ainda hoje esse assunto faz parte de nossa realidade. Como moradora de Minas Gerais, é fácil falar sobre esse assunto, pois a empresa Vale vai se apoderando de todas as montanhas e as barragens de rejeitos são ameaças do cotidiano de quem mora em área de risco e a gente bem sabe que tragédias como a de Brumadinho ainda podem se repetir aqui em Minas, levando em conta que o estado possui quase 50 barragens a montante, que é a mais propensa a se romper.

   Enfim, Um Caminho Para a Liberdade é um livro que emana dedicação, dá pra ver que a autora quis ser autêntica e trazer um texto que fosse mais que um simples entretenimento. A leitura é extremamente bem construída e deliciosa de se acompanhar, e, assim como uma flor desabrochando, a cada página virada a obra vai ficando cada vez mais linda! Recomendo de olhos fechados pra todos vocês e, esse, é claro, já está na lista de favoritos do ano!