Resenha # 155 : Céu sem Estrelas

Título: "Céu sem Estrelas"
Autor: Iris Figueiredo
Páginas: 360
Editora: Seguinte
Ano: 2018
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   Céu sem Estrelas é o  meu primeiro contato com a escrita de Iris Figueiredo e confesso que a leitura foi muito além de minhas expectativas. Fiquei impressionada com a capacidade que a autora tem em infiltrar em nossos pensamentos e nos fazer sair de nossa zona de conforto. Delicado, intenso e comovente, Céu sem Estrelas é um livro que dá um tapa na cara da sociedade e nos faz pensar sobre as questões que realmente importam.
    O livro traz a história de Cecília, uma jovem que acredita que todo mundo a abandona. Ela nunca conheceu o pai, e sua relação com a mãe e o padrasto sempre foi complicada - era comum que a garota fosse mandada para passar uns tempos com a avó quando alguma discussão ficava mais acalorada. Agora, aos dezoito anos, ela acabou de passar no vestibular e ser aceita no curso de desenho industrial, mas não consegue se dedicar aos estudos quando tudo à sua volta parece desmoronar.
   Sem emprego e expulsa de casa, a garota ainda sofre com a baixa autoestima e com o julgamento constante das pessoas por ser gorda. Ela encontra refúgio nos livros, no carinho de sua avó e na casa de Iasmim, sua melhor amiga. Lá, Cecília passa a conviver com Bernardo, irmão de Iasmim, que parece sempre disposto a ajudá-la e apoiá-la. Para sua surpresa, a amizade logo evolui para um romance.
   Apesar de estar encantado por Cecília, Bernardo esconde seus próprios traumas e ressentimentos, e terá de descobrir se finalmente está pronto para se comprometer. Cecília, por sua vez, precisará lidar com uma série de inseguranças em relação ao corpo - e com a instabilidade de sua própria mente.
    Entre provas, festas, chopadas e bolsas de iniciação científica, Bernardo vai aprender mais sobre quem é - e sobre o homem que quer se tornar. Enquanto isso Cecília vai finalmente descobrir por que se sente tão diferente das outras pessoas, e onde encontrará forças para seguir em frente.

   Céu sem Estrelas é narrado em primeira pessoa e alterna os capítulos entre as versões de Cecília e Bernardo, o que possibilita um maior entendimento da história, já que conhecemos bem de perto todas as angústias e incertezas que cercam os protagonistas. A escrita de Iris Figueiredo é extremamente sensível, delicada, honesta e, ao mesmo tempo, dolorosa e pesada nos momentos certos. Fiquei impressionada com a facilidade que a autora tem para abrir nossa mente para refletir, sentir e tentar entender o que os personagens estão passando.
    Os personagens foram muito bem construídos e são tão sensíveis que é impossível não sentir empatia por eles. Cecília, a grande estrela, é uma jovem que além de ter seus próprios problemas dentro de casa com sua mãe e padrasto, ainda sofre depressão e se sente inferior a qualquer outra mulher pelo simples fato de estar acima do peso. Bernardo é um jovem que se encaixa muito bem nos “padrões” e é privilegiado em todos os sentidos que se possa imaginar e, como um bom rapaz deve ser, ama Cecília do jeito que ela é. Os personagens secundários também são muito agradáveis e reforçam a importância de existir pessoas que propaguem o amor ao invés de preconceitos mesquinhos.
    Céu sem Estrelas traz muitas questões a serem debatidas como depressão, automutilação, gordofobia, machismo, mas, ao meu ver, a maior mensagem deixada no livro é sobre aceitação, sobre autodescobrimento, sobre entender cada tipo de beleza e o que ela representa. Céu sem Estrelas é um livro real, humano, que poderia ser a história de qualquer um de nós, um livro que fala abertamente sobre preconceitos e que mostra a importância de se ter uma família bem estruturada.
   Enfim, Céu sem Estrelas foi uma leitura muito reflexiva, que me fez pensar sobre as pessoas que estão ao meu redor e como o mundo é feito de “padrões”, onde dá a sensação que estamos a mercê dos rótulos que a sociedade impõe... Essa leitura é necessária, deveria ser obrigatória e recomendo pra todos vocês!