Resenha # 203 : Fique Onde Está e Então Corra

Título: "Fique Onde Está e Então Corra"

Autor: John Boyne

Páginas: 222

Editora: Seguinte

Ano: 2014

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      Em 2021 quero dar continuidade para o projeto que comecei no ano passado, onde pretendo ler todos os livros que tenho encalhados em minha estante. O resultado dos livros lidos no ano passado foi muito satisfatório, fiquei surpresa pela quantidade de livros realmente bons que tinha deixado esquecido por tanto tempo na minha estante... Sendo assim, esse ano vou dar continuidade a esse projeto e espero zerar a lista de livros não lidos que possuo. Para começar, escolhi ler  Fique Onde Está e Então Corra, do autor John Boyne! Esse livro já estava comigo há mais de 5 anos e lembro que o comprei porque tinha acabo de ler e favoritar O Menino do Pijama Listrado, e tinha gostado tanto que estava em busca de outras obras do autor. Acontece que o tempo passou e ele ficou mofando na minha estante por todo esse tempo, mas, antes tarde do que nunca, né? E, pra minha surpresa, foi uma leitura tão rápida que fiquei pensando por que enrolei tanto para o ler.

   O livro se inicia em 28 de julho de 1914, data do inicio da Primeira Guerra Mundial, mas, além disso, nessa mesma data acompanhamos a festa de aniversário de 5 aninhos do protagonista Alfie Summerfield, porém, devido a tensão dessa data, poucas pessoas compareceram à sua festa naquele dia. Quase nenhum amigo dele pôde ir à festa, e os adultos pareciam preocupados — enquanto alguns tentavam se convencer de que tudo estaria resolvido antes do Natal, sua avó não parava de repetir que eles estavam todos perdidos. Alfie ainda não entendia direito o que estava acontecendo, mas a Primeira Guerra Mundial tinha acabado de começar.

    Seu pai, George, um cara honesto, que todas as manhãs ia distribuir leite com o sr. Asquith (o cavalo da leiteria), resolve se alistar antes de ser convocado porque acha que é o seu dever para a nação e porque todo mundo estava falando que tudo ia se resolver antes do natal daquele ano. O que sabemos que é mentira, já que a primeira guerra só terminou em 1918. Com o pai ausente, a vida de Alfie muda bastante, porque a mãe dele, Margie, agora precisa trabalhar intensamente para conseguir sustentar os dois. O menino tem que assumir responsabilidades além da sua idade. Georgie manda cartas para eles, mas depois de 4 anos, Alfie não tem mais notícia do pai. Margie fala que o pai dele estava em uma missão secreta e por isso não mandava mais cartas, mas o menino, agora mais maduro, acha que o pai dele está morto, embora conferisse todas as manhãs a lista de mortos no jornal.

   Depois da polícia levar para longe a sua melhor amiga Kalena e o pai dela, o sr Janácek da loja de doces, Alfie entra na casa deles e rouba a caixa de engraxate de lá. Então, ele começa a trabalhar escondido da mãe na estação de trem, e nisso ele consegue uma informação que poderá levar a localização de Georgie, e o menino não pensará duas vezes em fazer tudo que for possível para encontrar o pai e trazê-lo de volta para casa.

   Fique Onde Está e Então Corra é narrado em terceira pessoa e traz aquela escrita simples e cativante de John Boyne  que me fez apaixonar pelo O Menino do Pijama Listrado e neste ela não é diferente. O mundo através dos olhos de uma criança ingênua (mesmo que em terceira pessoa) é um mundo em que todos nós deveríamos enxergar, e Boyne retrata isso belamente. A história é muito comovente pois, conseguimos ver através da inocência de uma criança as atrocidades cometidas nesse período histórico tão importante. É muito bonito a forma como o John Boyne consegue escrever sobre temas tão sérios com tanta leveza. Toda a tristeza e complicações que uma guerra traz estão presentes nesse livro, mas sem todo o drama. Temos o patriotismo, as mortes prematuras, a vida difícil de quem ficava em casa, o preconceito com quem desertava, mas também o progresso que inegavelmente uma guerra trazia. E essa história é também muito realista, a partir do ponto de vista de uma criança comum, que é ingênua e enfrenta problemas também comuns... Nada de personagens mirabolantes, fora do real ou do grande escalão, nessa obra temos um encontro com personagens simples, mas, reais.

     O protagonista Alfie é um personagem que nos inspira afeto e carinho. Muitas vezes dá vontade de abraçar Alfie e dizer o quanto ele é um menino muito especial. Sua pureza e sua coragem ganha o coração do leitor. Mesmo sendo uma criança, ele tem uma sabedoria que muito adulto não possui e toda a sua trajetória em busca do pai é tão bem escrito, tão intenso e rico de sensibilidade, que nos envolve, como se fizéssemos realmente parte daquela situação. Além do protagonista, a construção dos personagens foi tão bem feita que se torna impossível não ser cativado por cada um. Joe, um dos vizinhos da família Summerfield e objetor de consciência, é levado à prisão por não querer ir à guerra, já que o alistamento passa a ser obrigatório. Ele é tratado como covarde por não querer aceitar ir à luta. Outro vizinho da família, um Sr. húngaro chamado Janácek e sua filha são deportados para um campo, acusados de espionagem, já que são estrangeiros. E o que dizer da mãe de Alfie? Uma mulher guerreira que da noite para o dia tem que aprender a sustentar ela própria e seu filho... Em suma, são personagens bem construídos, reais e que nos mostram a capacidade que o ser humano tem em se reinventar, em renascer diante de algo catastrófico.

    Fique Onde Está e Então Corra nos mostra o caos que se torna um país em guerra e suas consequências para a população, tanto economicamente quanto socialmente. Na minha opinião, a principal mensagem que essa história nos ensina é que as melhores motivações para fazermos algo são pelas pessoas que amamos, e que nunca podemos desistir daquilo que realmente queremos, mesmo que por um momento seja impossível. Através da busca de Alfie pelo seu pai, percebemos o quão longe o amor nos pode levar e como somos capazes de nos adaptar em um momento de dificuldade. 

   Enfim, Fique Onde Está e Então Corra foi uma leitura incrível, que me emocionou, que me fez refletir e ainda me deixou temerosa pela capacidade que o ser humano tem de ser cruel. Se você curte leituras que tenham como cenário as Grandes Guerras, tenho certeza que você vai favoritar essa leitura! E a pergunta que fica é: porque eu não li antes?